Polícia, tragédia e Ibope: Record e SBT apostam em manhã do caos na TV
Record e SBT disputam a audiência matutina com programas policiais, priorizando tragédias e violência

Publicado em 05/06/2025 às 04:05,
atualizado em 05/06/2025 às 10:30
Record e SBT travam uma intensa disputa pela audiência nas manhãs, com seus programas policiais competindo diretamente. De um lado, Primeiro Impacto e Alô Você; do outro, Hoje em Dia e Balanço Geral. Nesse embate, a TV parece ter se empobrecido, apostando quase exclusivamente em temas como violência, crimes e tragédias para conquistar o Ibope entre as duas redes.
Nessa disputa pelo público, a Record transformou o Hoje em Dia, que originalmente nasceu como uma revista eletrônica, mas acabou adotando um tom sensacionalista. Na busca pela audiência, tudo vale a pena, e apresentadores extremamente talentosos veem seu talento limitado a dois quadros de em torno de 30 minutos no total - os únicos momentos em que o programa foge do conteúdo policialesco.
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Nessa guerra, para enfrentar as mudanças na programação do SBT, a Record apostou em ampliar o tempo do policialesco Balanço Geral. Numa emissora religiosa, o mundo cão se tornou a atração principal. Esse é o caminho da TV?
No SBT, Primeiro Impacto, SBT News e Tá na Hora, que está em seus últimos dias, mantêm o mesmo perfil e formato da concorrente, seguindo a linha editorial focada em conteúdo policial. Além disso, a emissora enfrenta o desafio de construir um jornalismo nacional mais competitivo.
Exibir o Primeiro Impacto em rede nacional, destacando, por exemplo, um acidente com uma moto na zona leste de São Paulo, não é um problema interessante para telespectadores no Rio de Janeiro, Minas Gerais ou Brasília. SBT não é a TV Gazeta.
Executiva do SBT busca qualidade
Por isso, considero louvável a iniciativa de Daniela Beyruti, CEO do SBT, ao tentar diversificar a grade matutina. Embora a aposta em Patati Patatá possa não ser a mais acertada, sua busca por um programa de maior qualidade é bem-vinda. Espero que o programa infantil só saia do ar para dar espaço a algo que fuja do gênero policial.
A favor do SBT, pesa o fato de que sua nova programação da tarde e da noite está mais diversificada, incluindo dramaturgia, entretenimento e notícias. Enquanto isso, a Record continua apostando no caos. Nem mesmo aos sábados, na disputa com Virgínia Fonseca, a emissora consegue oferecer um entretenimento capaz de competir pela audiência.
O jornalismo popular tem espaço para conteúdo policial, mas o SBT e Record limitar-se apenas a tragédias acaba por nivelando para baixo a qualidade da programação. Além disso, grandes marcas evitam associar suas campanhas a esse tipo de produto, um cenário que dificulta a captação de anunciantes. Quem paga a conta?
Outro exemplo é o recém-estreado Alô Você, que começou com uma abordagem mais soft da notícia, mas teve que sucumbir a editoria policial devido à intensa disputa pelo Ibope com a Record.
O ciclo funciona nos dois sentidos: se o SBT evita exibir tragédias, a Record assume essa posição, e vice-versa. No fim, hoje, a disputa pelo segundo lugar na audiência segue a fórmula da violência na tela como atrativo .
Esse ponto reforça a falta de inovação no telejornalismo e impede que conteúdos mais diversificados tenham espaço na TV aberta. Hoje essa é a regra: quanto mais tiro e caos, melhor.