Vale Tudo dá sumiço em personagens lésbicas bem no Mês do Orgulho LGBTQIA+
Cecília entrou em coma e Laís desaparecerá em breve após um naufrágio

Publicado em 03/06/2025 às 12:45,
atualizado em 03/06/2025 às 12:48
As personagens lésbicas de Vale Tudo, Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima), somem de cena bem no Mês do Orgulho LGBTQIA+. Enquanto isso, o irmão homofóbico de uma delas, o vilão Marco Aurélio (Alexandre Nero), ganha mais espaço, a ponto de ser “humanizado” nos próximos capítulos da novela da Globo.
Em breve, Marco Aurélio se afeiçoa de vez a Sarita (Luara Telles) e decide criar a sobrinha, assumindo a paternidade da menina. Paralelamente, vai se casar com Leila (Carolina Dieckmann), dando uma família “tradicional” à criança enquanto Laís estará desaparecida após um naufrágio e Cecília seguirá em coma.
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Na novela original, Cecília morria em um acidente de carro. Ao contrário do que muitos divulgam, a personagem não saiu de cena por rejeição do público. O autor Gilberto Braga (1945-2021) queria discutir na trama as heranças em casais homoafetivos, que não tinham direitos assegurados na década de 1980.
De acordo com a biografia Gilberto Braga: O Balzac da Globo, de Artur Xexéo e Maurício Stycer, ao criar Cecília e Laís, o novelista se inspirou em uma situação real vivida pelo fotógrafo Marco Aurélio Cardoso Rodrigues, que viveu 17 anos com o artista plástico Jorge Guinle Filho, morto em 1987.

O ime, é claro, não poderia ser mantido na versão de 2025. Hoje, uma vez casadas, Cecília e Laís têm seus direitos sucessórios garantidos. A decisão por mudar o rumo das duas, apostando no potencial dramático de um processo de adoção, parecia um acerto, não fosse o desenvolvimento desse entrecho até aqui.
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Desde o início, Cecília e Laís falam abertamente sobre sua relação, mas tudo é dito, nada é mostrado. Se na primeira versão elas mais pareciam amigas – como Maeve Jinkings disse em entrevista –, pouco mudou na releitura: elas surgem abraçadas, de mãos dadas… Beijo na boca? Nem pensar!
Que dirá então as cenas mais ousadas, na cama, a que têm direitos tanto os casais heterossexuais mais saidinhos, como César (Cauã Reymond) e Maria de Fátima (Bella Campos), quanto os mais recatados, caso de Raquel (Taís Araujo) e Ivan (Renato Góes). Com medo de reações adversas, a novela jamais ousaria tanto.
As lésbicas da história também tentam emplacar um plot inócuo e deslocado sobre tráfico ambiental. O remake assinado por Manuela Dias lança no ar uma profusão de temas, mas não se aprofunda verdadeiramente em nenhum deles.
Vale Tudo só termina em outubro, e ainda há a possibilidade de que uma boa trama surja e se desenvolva até o final. Por ora, o texto segue pouco inspirado, repleto de decisões equivocadas que, se não traem a proposta original, em pouco ou nada acrescentam à narrativa – até bebês reborn vão aparecer em breve.
Havia, na novela de 1988, uma abordagem progressista e pertinente à época, algo que a atual produção das 21h tenta apresentar em 2025, sem sucesso. O fato de Cecília e Laís sumirem bem no mês de celebração LGBTQIA+ é um sintoma de como esse remake é inoportuno e infeliz em quase tudo o que propõe.
A nova versão de Vale Tudo é escrita por Manuela Dias e tem direção artística de Paulo Silvestrini. O remake é baseado na novela exibida entre 1988 e 1989, criada por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) e que teve direção de Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.
O NaTelinha divulga todos os dias os resumos dos capítulos, detalhes dos personagens, entrevistas exclusivas com o elenco e spoilers da novela Vale Tudo. Confira!