Globo proibiu protagonista com Aids em novela que estreava há 33 anos
Há exatamente 33 anos, no dia 1º de junho de 1992, Despedida de Solteiro estreava na faixa das seis da Globo com um personagem que conquistou o público, mas morreu logo
Publicado em 01/06/2025 às 13:00
Há exatamente 33 anos, no dia 1º de junho de 1992, a Globo colocava no ar uma novela das seis que foi criada às pressas e contou com uma polêmica na definição do perfil do protagonista.
Estamos falando de Despedida de Solteiro, que teve 206 capítulos e ficou no ar até 29 de janeiro de 1993.
Trama
Inicialmente, a substituta de Felicidade (1991) seria o remake de Mulheres de Areia, mas a trama foi adiada por causa da gravidez de Glória Pires. Para tapar o buraco, a Globo convocou Walther Negrão para criar uma nova história utilizando a mesma cidade cenográfica e os cenários criados para Mulheres de Areia.
"Na reunião, abriram na minha frente, em cima da mesa, as plantas dos cenários que tinham produzido. Eu não precisava me preocupar com o elenco, só tinha que colocar uma história ali dentro daquele cenário de cidade cenográfica. Eu tinha de 50 a 60 dias para fazer isso. Era uma cidade de praia. Eu recebi os croquis e a planta baixa do cenário para poder me movimentar e imaginar os personagens. Estava lá ‘Casa de Ruth e Raquel’. Virou 'Casa de Cirineu Farfan', personagem da minha novela. Guardo as plantas até hoje. Mudei a ambientação para uma cidade do interior, fui criando os personagens e fizemos a nova novela a toque de caixa", explicou o autor ao livro Autores, Histórias da Teledramaturgia.
Um dos destaques da produção foi João Vitti, que vivia Xampu. Ele e seus três amigos, João Marcos (Felipe Camargo), Pedro (Paulo Gorgulho) e Paschoal (Eduardo Galvão), participaram de uma festa de despedida de solteiro de um deles numa cachoeira. Porém, no dia seguinte, a prostituta Arlete (Gabriela Alves) foi encontrada morta.
Os são presos e acabam condenados a 21 anos de prisão. Após sete anos de reclusão, eles conseguem liberdade condicional. No entanto, Xampu volta bastante doente e, antes de morrer, se casa com Bianca (Rita Guedes), uma moça interesseira.
Aids
Mesmo participando de apenas 18 capítulos, João Vitti fez muito sucesso como Xampu e virou um dos galãs mais requisitados da Globo na época.
No entanto, o personagem ou por uma importante modificação. A ideia inicial era que Xampu contraísse o vírus HIV na cadeia, após ser estuprado por outro preso. No entanto, a iniciativa foi vetada pela emissora, e o rapaz acabou sendo pegando Hepatite B numa briga de faca com um inimigo de cadeia que já estava contaminado.
"Foi uma experiência marcante. Achei que a novela poderia funcionar como um alerta para a precária situação dos presos aidéticos. A TV pode e deve fazer esse merchandising social. Mas, na época, a Globo censurou a minha ideia, com o argumento de que o tema seria um 'voduzão' para uma novela das 18 horas", explicou o autor no mesmo livro. "Fiquei com pena. Até plasticamente é muito complicado mostrar um personagem depauperado pela Aids", completou Negrão (foto acima).
"Nunca ficou claro"
João Vitti, que atualmente tem 57 anos e fez uma participação em Volta por Cima no ano ado, falou sobre o assunto em entrevista ao Gshow, em 2019.
"O Xampu morreu de Aids, mas isso nunca ficou claro na trama. Não sei se foi alguma questão interna ou se foi porque era uma novela das seis, mas ele morreu porque na época a proposta do autor era abordar a questão da Aids de forma discreta", relembrou.
"Não existia uma atenção a isso, então acredito que a proposta do Walther Negrão era jogar luz sobre essa questão prisional que estava acontecendo”, comentou o ator, que ainda completou: “A novela foi em 1992, a Aids começou a pipocar em 1985, e em 1990 estavam morrendo pessoas, eu perdi alguns amigos", completou.
