Antes de morrer, autor de Vale Tudo teve último desejo negado pela Globo
Gilberto Braga morreu em 2021, aos 75 anos, sem realizar seu último desejo; autor ficou magoado após o fracasso de Babilônia, novela da Globo que escreveu em 2015

Publicado em 19/05/2025 às 14:01,
atualizado em 19/05/2025 às 15:52
A Globo decidiu apostar todas as suas fichas no remake de Vale Tudo, que estreou no último dia 31 de março, mas a novela ainda não caiu totalmente no gosto do público. Um dos autores da trama original foi Gilberto Braga, que escreveu a trama junto com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères.
Considerado um dos principais novelistas da história da televisão brasileira, ele escreveu sucessos como Dancin' Days (1978), Água Viva (1980) e Corpo a Corpo (1984), além de novelas que enfrentaram dificuldades em suas trajetórias, como O Dono do Mundo (1991) e Pátria Minha (1994).
Apesar disso, Braga estava frustrado quando morreu, em 26 de outubro de 2021, aos 75 anos, após enfrentar uma infecção sistêmica decorrente de uma perfuração no esôfago.
Muito doente, o autor ainda tentou voltar ao trabalho, mas teve seu último pedido negado pela Globo e partiu sem realizar um sonho.
Sem chance
Após Paraíso Tropical (2007) e Insensato Coração (2011), Gilberto Braga não alcançou o mesmo êxito em Babilônia (2015), sua última novela. Escrita com Ricardo Linhares e João Ximenes Braga, a trama se tornou um dos maiores fracassos da faixa das nove da Globo de todos os tempos.
Depois disso, o novelista já estava bastante debilitado por conta das consequências de um acidente vascular cerebral (AVC). Ainda assim, ele almejava voltar ao trabalho e chegou a entregar três novos projetos para a Globo. No entanto, nenhum deles foi para a frente.
Braga escreveu uma minissérie sobre Elis Regina, mas o projeto não foi adiante porque o filme de Hugo Prata saiu na frente.
Depois, o autor fez uma nova versão de Brilhante (1981), que foi considerada pelo próprio profissional "um fracasso retumbante". A produção original teve a narrativa prejudicada por problemas com a Censura. Além disso, o penteado de Vera Fischer (foto acima), que vivia a protagonista Luiza, causou rejeição. A estrela apareceu com os fios curtos e encaracolados.
Intolerância, título provisório da nova versão, foi formatada para ser uma novela das onze, mas a produção acabou engavetada, apesar de ter todos os capítulos escritos.
Por fim, Braga criou também Feira das Vaidades para a faixa das seis. A trama era inspirada em Vanity Fair, de William Makepeace Thackeray, escrita em 1847. A obra foi aprovada e encaixada na fila das novelas das seis da Globo ainda antes da pandemia de Covid-19, mas acabou sendo simplesmente descartada antes da morte do autor.
"Muito deprimido"
Em entrevista à jornalista Cristina Padiglione, o autor João Ximenes Braga, parceiro de Gilberto Braga em vários trabalhos, revelou que, para o falecido autor, era questão de honra emplacar um novo sucesso.
O novelista não queria que seu último trabalho na televisão fosse seu maior fracasso.
"Em 2015, quando voltei da viagem de férias após Babilônia, ele me convocou à casa dele. Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de Babilônia", contou.
"Não ouso dizer que antecie sua morte, mas naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. […] Mas superar esse fracasso era importante para ele", explicou.
Na mesma entrevista, João Ximenes Braga fez um apelo para que a Globo disponibilizasse os últimos textos de Gilberto Braga, que seguem inéditos. A emissora ainda não atendeu ao pedido do dramaturgo, mas, por outro lado, vem celebrando a memória dele, como comprova o próprio remake de Vale Tudo.