Rejeição fez Globo explodir novela que estreava há 27 anos
Novela das oito da Globo que estreava há exatamente 27 anos aproveitou a já prevista explosão de um shopping para eliminar personagens rejeitados pelo público

Publicado em 25/05/2025 às 09:41
Há exatamente 27 anos, a Globo estreava uma novela que causou grande repercussão. Com o lema "forte, verdadeira, emocionante", Torre de Babel foi ao ar pela primeira vez no dia 25 de maio de 1998 e impactou o público brasileiro com cenas intensas de violência.
A história escrita por Silvio de Abreu teve uma recepção tão negativa que o roteirista precisou usar a explosão de um shopping center para se livrar de personagens que não conquistaram os telespectadores. O desastre também marcou uma virada na condução da narrativa, convertendo a obra num dramalhão clássico.
As alterações surtiram efeito e Torre de Babel acabou fazendo sucesso. No entanto, alcançar tal feito não foi uma missão simples.
Vilão
O capítulo de estreia de Torre de Babel foi um verdadeiro choque para os telespectadores. Logo no começo, Tony Ramos surgia interpretando José Clementino, que assassinou sua mulher com golpes de pá. No encerramento, um bando de traficantes armados invadiu a residência de César Toledo (Tarcísio Meira) e Marta (Gloria Menezes).
A novela narrava a trajetória de Clementino, um sujeito simples que tirou a vida da esposa após flagrar uma infidelidade. Testemunha-chave do homicídio, o empresário César Toledo fez um depoimento crucial para que o personagem recebesse a sentença mais severa.
Com isso, Clementino ou duas décadas na prisão, alimentando o desejo de se vingar de César. Ao saber que seu rival estava prestes a inaugurar o Tropical Tower Shopping, um luxuoso centro comercial localizado em uma área nobre de São Paulo, Clementino elaborou um plano para explodir o empreendimento.
Rejeição
Os primeiros capítulos de Torre de Babel afastaram os telespectadores. O público não estava habituado a ver Tony Ramos, tradicionalmente conhecido por papéis de mocinho, vivendo um assassino impiedoso e um homem rancoroso.
Outros personagens também não agradaram, como o agressivo Agenor (Juca de Oliveira), pai de Clementino e proprietário de um ferro-velho. Guilherme (Marcello Antony), filho de César e Marta que enfrentava problemas com entorpecentes, também não teve boa recepção.
Além disso, o casal homoafetivo composto por Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeifer) gerou controvérsia. Estava previsto que Rafaela morreria e Leila se aproximaria de Marta, inicialmente como confidente. Mas a chance de a personagem de Gloria Menezes envolver-se romanticamente com outra mulher também gerou rejeição por parte do público.
Chance
A explosão do Tropical Tower Shopping ocorreu no capítulo 45 de Torre de Babel. Clementino, evidentemente, se tornou o principal acusado pelo atentado; contudo, ele alegou que seus planos foram furtados por alguém que queria incriminá-lo. O personagem, aliás, perdeu o perfil sombrio ao se apaixonar por Clara (Maitê Proença).
Além de criar um enigma que só seria desvendado no último capítulo, a explosão do shopping também possibilitou que a trama corrigisse elementos que não estavam funcionando. Diante da controvérsia em torno do casal homoafetivo, Silvio de Abreu decidiu eliminar também Leila na explosão – originalmente, apenas Rafaela morreria.
Já estava previsto o falecimento de Guilherme e o desaparecimento de Agenor no acidente. No entanto, o papel de Juca de Oliveira só retornaria no episódio final. Com a ausência de Agenor, o núcleo do ferro-velho foi renovado, deixando de ser um ambiente degradado para se tornar calcado no humor, incluindo as confusões causadas por Jamanta (Cacá Carvalho).
A partir da explosão, Torre de Babel alterou sua linha narrativa, assumindo um tom mais melodramático. A história ou a girar em torno do relacionamento entre Henrique (Edson Celulari) e Celeste (Letícia Sabatella), ameaçados pela insana Angela Vidal (Claudia Raia).
"Às vezes, a novela não dá grande audiência na estreia – como Torre de Babel, que assustou o público no começo. Aí, eu deixei de lado a análise psicológica, traí minha ideia original, contei a história em tom folhetinesco, e o povo embarcou na emoção. Mas aquilo me desagradou", lamentou o autor à Folha de S.Paulo, em 20 de janeiro de 2002.
Após 203 capítulos, Torre de Babel terminou no dia 15 de janeiro de 1999. O último capítulo, que revelou Sandrinha (Adriana Esteves) como a responsável pela explosão, marcou 61 pontos de média, com picos de 66. A novela terminou com média geral de 44 pontos, marcando um a mais que a antecessora, Por Amor, de Manoel Carlos.